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Ciência e educação: descubra por que uma educação com base em evidências é tão importante.

Entenda como a ciência pode ajudar a educação

Metodologias Aug 11, 2021

A pergunta “como a ciência pode ajudar na educação?” define muito bem o propósito da educação baseada em evidências ou “Science of Learning”.

Essa abordagem reconhece o valor e a importância do método científico para a melhoria das práticas e políticas educacionais. Tem por objetivo construir uma nova base para a educação, fundada em evidências científicas.

Com o avanço da tecnologia digital e da neurociência computacional, a educação baseada em evidências tem ocupado lugar de destaque em muitos debates educacionais.

Mas será que Science of Learning é uma novidade?

Tive a oportunidade de conversar com Jonas Gomes, que é sócio fundador da Gama Capital, foi pioneiro em investimentos no setor de educação no Brasil,  possui doutorado em matemática e já atuou em diversas atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento. Perguntado sobre como podemos qualificá-lo na entrevista, Jonas brinca: “sou investidor no cartão de visita, empreendedor na cabeça e educador no coração”.

Para ele, há muito tempo que a educação busca o caminho da evidência científica, conforme pode-se observar em trabalhos pioneiros desenvolvidos por Piaget, Vygotsky e outros.

Mas até que ponto estamos indo na direção correta? Qual é a importância da ciência para a educação? Por que precisamos de evidências?

Neste artigo vou compartilhar com você os principais pontos e concepções trazidas na minha conversa com o Jonas, a fim de estimular o debate e o desenvolvimento do raciocínio acerca desse assunto.

Aqui você vai conferir:

Science of Learning: o que é?
Por que Science of Learning não é novidade
Como a neurociência pode ajudar na educação
O problema dos mitos na educação

Science of Learning: o que é?

Science of Learning é a Ciência da Aprendizagem. Tem por escopo encontrar evidências científicas sobre o que funciona ou o que não funciona no processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento humano.

Trata-se da contribuição interdisciplinar entre ciências convergentes, como a psicologia, neurociência computacional, tecnologias digitais, para que a educação seja mais eficiente e precisa.

Para o educador Jonas, a educação baseada em evidência científica

"(...) [tem a intenção de] trilhar a educação pelo caminho da medicina. A Medicina baseada em evidência. Porque você não vai simplesmente ter achismos, não vai criar aqueles mitos.

(...) não se pode ir para esse lado, deve-se ir para a evidência. Se tem evidência, ótimo, se não tem você abandona. O que não quer dizer que esteja errado, porque pode ser que mais à frente se passe a ter evidências. Mas tem que usar o que se conhece hoje.”

Sobre os mitos mencionados pelo Jonas, mais adiante falarei dos exemplos trazidos por ele. Não deixe de ler até o final!

Dessa fala é importante destacar dois aspectos:

  • não é por que não tem evidência que está errado;
  • se não tem evidência, deve-se fazer mais pesquisas.

Quer dizer, não se pode trabalhar com suposições, ou, como ele coloca, “achismos” na educação. Afinal, estamos falando do desenvolvimento de crianças e jovens que são o futuro de toda a sociedade. O pior caso é quando a falta de evidências cria mitos que se propagam e atrapalham a prática do aprendizado.

Entenda a seguir por que educação baseada em evidência não é novidade na opinião do educador Jonas e o que isso significa.

Por que Science of Learning não é novidade

Para o educador Jonas Gomes, Science of Learning não é novidade. Segundo ele, “sempre se buscou na educação, uma educação baseada em evidência”. Na sequência justifica:

“Isso pra mim não é novidade. As pessoas contam essas coisas como se fosse uma grande novidade.

Por exemplo, quando Piaget começou a desenvolver o conceito de estágios de desenvolvimento a partir de observações de crianças que faziam o teste de QI que havia sido desenvolvido pelo Binet (sim, o Piaget trabalhou com o Binet, o criador da metodologia de medida de IQ denominada Stanford-Binet). Ele observou, buscou evidências e tirou conclusões sobre a aquisição de conhecimento em cada fase.

Quando Vygotsky começou, estava atrás de entender como é que a criança funciona, como é que a criança evolui. (...) todos eles estavam buscando evidências de como é que se aprende.”

Dessa forma, observa-se que não é de agora que a educação procura na ciência sustentação para suas metodologias e práticas.

Acontece que, com a evolução da tecnologia, o avanço científico ampliou significativamente o número de descobertas na área, fazendo com que as atenções se voltassem para Science of Learning.

Isso apenas foi possível porque as ciências próximas à educação convergiram para dar o suporte necessário. É o que afirma o Jonas:

“(...) A medicina é baseada em evidência porque você tem a bioquímica, a química, a biologia e as tecnologias (raio X, tomografia, etc.). Com todo o avanço da ciência, você começa a praticar uma medicina que consegue se basear em evidências em seus diagnósticos. Na educação ocorre algo semelhante: quando conseguimos ter um suporte científico para produzir evidências a “produtividade do aprender” pode melhorar substancialmente e, no limite, ser medido.”

Logo, uma educação baseada em evidências deve estar aberta a receber e trabalhar com informações científicas, testadas e aprovadas por meio de metodologias confiáveis, de áreas como a psicologia, pedagogia e neurociência computacional e tecnologias de um modo geral.

“Na mesma época em que Freud fazia estudos na psicologia, para entender como “funcionamos”  do ponto de vista social e emocional, Piaget (que era biólogo de formação) trabalhava com Binet aplicando testes de QI, e a partir de observações de milhares de testes com pessoas de diferentes idades (inclusive crianças) ele começou a desvendar os meandros do aprendizado e da aquisição de conhecimento, o aprender.

Vygotsky, contemporâneo de Piaget, também se interessou pela forma como absorvemos o conhecimento. Ele via o aprender, a aquisição de conhecimento, como um continuum cumulativo: a partir de conhecimentos sabidos, você adquire novos conhecimentos.

Se sabemos como se aprende, fica mais fácil saber como ensinar. A partir de um objetivo claro, criamos a estrutura de um currículo baseado em três pilares: o que eu devo ensinar, como eu devo ensinar e como posso avaliar a se o objetivo foi alcançado.”

Segundo ele, “diversos avanços da neurociência computacional trarão diversas respostas sobre como aprendemos e diversos mitos ainda existentes deverão desaparecer”. Agora que você já sabe como ciência e educação devem se relacionar, descubra como a neurociência pode ajudar na educação.

Como a neurociência pode ajudar na educação

A vantagem de trazer uma educação baseada em evidência é acabar com alguns mitos, defende o Educador, ao introduzir sua opinião a respeito de como a neurociência pode ajudar na educação.

Para ele,

“A primeira coisa importante é: como a gente pensa e como a gente aprende? Essa é uma pergunta dificílima! A neurociência traz insights para isso.

Se eu souber como é que a gente aprende, você vai ganhar muito. Porque se eu sei como é que você aprende, eu vou ver como eu vou te ensinar daquela maneira que você aprende. Isso é uma coisa que a neurociência traz.”

Ao falar sobre como estão utilizando a neurociência na prática, Jonas menciona o trabalho realizado pela SQUARE, holding de investimentos em tecnologias educacionais, onde o fundo por ele gerido investiu e onde ocupa a posição de Presidente do Conselho de Administração.

“ Na SQUARE uma de nossas áreas de investimento é a avaliação do aprendizado, ou  assessment. Essa área vai sofrer grandes mudanças com base nos resultados da Neurociência Computacional e tecnologias relacionadas.

Na hora que você tem o assessment qualificado, começa a ter a educação mais baseada em evidência. Se você tiver o assessment com base na neurociência pra dizer "olha, essa criança aprendeu e aprendeu por isso e por isso" acaba-se com os mitos, com os achismos.

A educação de hoje estuda o ontem para preparar o aluno para um amanhã imprevisível. Como retirar a learning community dessa caverna de platão e fazer com que eles conheçam e pratiquem uma educação para o amanhã?

Não existe uma resposta a essa pergunta porém a busca de uma solução passa pelo desenvolvimento de uma educação que utilize todo o avanço das ciências cognitivas, e das tecnologias de um modo geral. A Science of Learning  vai tirar a educação da caverna dos mitos e dos achismos e apresentar ao mundo de uma educação baseada em evidências, é o uso do método científico na educação.

Existem muitos achismos na educação e eles têm que acabar porque só atrapalham.”

Entenda a seguir o que são esses mitos e porque eles são um problema para a educação.

O problema dos mitos na educação

Durante a conversa, foram várias as vezes em que o Educador citou os mitos existentes na educação que devem ser derrubados, porque atrapalham o desenvolvimento desta.

Ao final ele trouxe alguns exemplos e ainda explicou qual é o problema causado por esses mitos na educação.

Confira:

“Por exemplo, a atenção e engajamento. Atenção não é um recurso infinito. Nós temos um tempo de atenção. Qual é esse tempo? É dez minutos? É 5? É 15?

Se você fizer essa pergunta "qual é o timeframe de atenção de uma criança”, que varia com a faixa etária, vai ter um monte de achismo. Tem-se utilizado tecnologias que permitem medir o tempo de atenção e engajamento de uma criança em um determinado contexto de aprendizado. Algum dia essas tecnologias chegarão às salas de aula.

Hoje diversos pais e responsáveis acreditam que o bilinguismo prejudica a alfabetização de uma criança, porque uma linguagem atrapalha a outra. Esse é um exemplo interessante pois o mito foi criado a partir de um “achismo” que não recomendava o biletramento, sem qualquer base científica.

Hoje, suportado por estudos da neurociência, sabe-se que ocorre exatamente o oposto: na aquisição simultânea de duas ou mais linguagens elas se complementam e ajudam o aprendizado do aprendiz, inclusive para além do domínio de aquisição de linguagens.

Outro mito é o de que as pessoas possuem estilos de aprender. Provavelmente, e aqui é um achismo meu (rsss), esse mito surgiu a partir da teoria das múltiplas inteligências desenvolvida por Howard Gardner, esta sim, comprovada pela neurociência.

Outro exemplo é que não existe overload cognitivo. Existe sim. [O cérebro] tem uma capacidade limitada, nossa memória é segmentada, nós temos um working memory que é muito pequeno, cabe ali 5, 7 palavras.

Então esse overload de conhecimento existe. Qual é o tamanho desse overload? E como é que eu faço para que a criança não tenha o overload de conhecimento?

O desenvolvimento da Science of Learning certamente vai acabar com todos os mitos. Porém, mais do que destruir mitos ela trará novas metodologias para o aprendizado.

Como se aprende melhor, como se ensina melhor, como fazer uma avaliação que além de medir se os objetivos do aprendizado estão sendo atingidos, possa também avaliar a produtividade do aprendizado, e também antecipar possíveis problemas futuros de cada aprendiz.”

Por fim, Jonas ainda volta ao tema do mito dos estilos de aprender.

“A meu ver, e isso é um achismo de minha parte (rsss), o mito de que cada indivíduo possui um estilo de aprender, surgiu de uma leitura inadequada do trabalho do Howard Gardner, sobre os oito tipos de inteligência.

O trabalho do Gardner é comprovado pela neurociência: o cérebro das pessoas não são exatamente iguais e isso faz com que habilidades inatas mudem entre indivíduos, levando ao que Gardner denominou de diferentes “tipos de inteligência”.

O trabalho do Gardner pode, e deveria, ser usado para se fazer avaliações de modo a identificar, com base em evidências, quais são as abilities [aptidões] dominadas em maior ou menor grau por cada criança, de modo a prover uma educação adequada para explorar os pontos forte e reforçar os pontos fracos.

Nota-se, portanto, a importância da convergência da ciência com a educação de modo que as evidências sejam de fato aplicadas nas práticas educacionais, extrapolando as paredes dos laboratórios e centros de pesquisa, alcançando as salas de aulas desde a educação básica e percorrendo todos os níveis.

Uma boa metáfora para isto é a da caverna de Platão: os alunos e professores sairão da educação atual (a caverna) e conhecerão uma educação verdadeiramente voltada para um futuro que não conseguimos prever e chega de forma célere catalisado pelas tecnologias.

Neste artigo você aprendeu sobre o Science of Learning, compreendeu a importância da neurociência para acabar com os mitos sobre aprendizagem e descobriu a importância da ciência para a educação.

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Até o próximo artigo!

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