BNCC e o Inglês no Ensino Fundamental: desafios e esperanças

Educação 4.0 Jul 2, 2021

A BNCC - Base Nacional Comum Curricular regulamenta as aprendizagens básicas e necessárias para o desenvolvimento dos indivíduos, devendo ser observada por todo o sistema educacional.

Este documento introduziu a obrigatoriedade do ensino de inglês a partir do Ensino Fundamental II (sexto ano). Antes, o inglês era matéria facultativa, podendo ser inserida no currículo das escolas de acordo com os critérios municipais.

Diante da tamanha importância que o aprendizado de inglês tem conquistado na sociedade atual, foi necessária sua obrigatoriedade no currículo.

Mas ela por si só basta? Afinal, o que é a BNCC e como ela muda o ensino de inglês? Qual sua importância para a atualização do ensino?

Isso e muito mais você vai conferir aqui. Boa leitura!

O que é BNCC
BNCC e as 10 competências gerais
BNCC e o inglês no Ensino Fundamental
BNCC e o ensino de inglês

O que é BNCC

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que regulamenta quais são as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras, tanto públicas quanto privadas, abrangendo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.

Começou a ser elaborada em 2015 e recebeu inúmeras contribuições (mais de 12 milhões), graças às consultas públicas, que foram sistematizadas pelo Ministério da Educação e Cultura.

O Conselho Nacional de Educação fez a análise legislativa e pedagógica e o documento foi finalmente aprovado em 2017, cabendo à rede de ensino do país o grande desafio de implementá-la até o início de 2020.

É um documento que foi construído democraticamente, com o envolvimento de educadores, especialistas e da sociedade.

Seu objetivo é a garantia do direito à aprendizagem e ao desenvolvimento pleno de todos os estudantes, visando à formação integral e contribuindo, assim, para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

Segundo Alice Ribeiro, Secretária Executiva do Movimento pela Base (um grupo de pessoas que desde o ano 2013 vinha discutindo a criação da mesma), a BNCC explicita os direitos dos alunos, constituindo-se numa nova espinha dorsal para o sistema educacional brasileiro.

A Constituição Federal de 1988, já destacava a educação a serviço do pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A responsabilidade do Estado também já estava prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei n° 9.394), sancionada em 1996, que definia como competência do Governo Federal, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabelecer diretrizes para nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum.

Isso ocorreu mediante o chamado Pacto Interfederativo.

A BNCC estabelece, de forma definitiva, os conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica, e coloca a educação brasileira em sintonia com as demandas do Século XXI.

BNCC e as 10 competências gerais

O especialista em educação Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, químico e professor com mais de 40 anos de carreira, defende uma sala de aula que estimule as competências socioemocionais, apontadas por ele como o caminho para garantir educação de qualidade e o desenvolvimento do país.

Em relação às mudanças trazidas pela BNCC, Ramos pondera que historicamente o Brasil sempre teve o foco da educação no desenvolvimento cognitivo, mas que a BNCC, com o aporte de suas dez competências gerais, permite a oportunidade de mudar a sala de aula, de ir além dos aspectos cognitivos, trabalhando no sentido das habilidades humanas, preparando as pessoas para as habilidades socioemocionais que o futuro irá demandar.

As dez competências gerais elencadas na BNCC 10, operam como um “fio condutor”. Elas devem ser desenvolvidas pelos estudantes ao longo de todos os anos da Educação Básica. São elas:

1. Conhecimento: Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2. Pensamento científico, crítico e criativo: Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3. Repertório cultural: Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4. Comunicação: Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

5. Cultura digital: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6. Trabalho e projeto de vida: Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7. Argumentação: Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8. Autoconhecimento e autocuidado: Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9. Empatia e cooperação: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Responsabilidade e cidadania: Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Entenda como ficou o ensino de inglês na BNCC no Ensino Fundamental.

BNCC e o inglês no Ensino Fundamental

Antes da BNCC havia uma grande indefinição a nível nacional, sendo que a escolha da língua estrangeira a ser ensinada cabia aos municípios.

Na terceira versão da Base Nacional Comum Curricular, foi optado pela estratégia de reconhecer a língua inglesa como um requisito para o desenvolvimento do país, entendendo-a como língua franca, aquela que é utilizada por povos de todo o mundo para a comunicação internacional.

A partir de sua aprovação, foi inserido o inglês no Ensino Fundamental II, do sexto ao nono ano. (BNCC Inglês pdf para download)

É interessante observar que, mais de 80% dos falantes da língua inglesa no mundo são oriundos de países onde o inglês não é falado como primeira língua. Com a crescente globalização e a necessidade de comunicação, a língua inglesa tornou-se fundamental para as viagens e os negócios.

É a língua da comunicação mundial e que nos permite uma verdadeira imersão na interculturalidade.

Falar inglês não restringe nossa possibilidade de comunicação e intercâmbio somente com os países onde esse idioma é a primeira língua, como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Irlanda, Austrália, entre outros.

O uso do inglês abre a perspectiva de poder conhecer também especificidades de outras culturas, como a nipônica, francesa, russa...

Nessa nova realidade, a forma de ensinar a língua inglesa, a partir da BNCC, também sofre algumas mudanças importantes. Veja agora quais são.

BNCC e o ensino de inglês

Andreia Alves, professora e consultora, com experiência no Ensino Fundamental e Médio no Estado de São Paulo, reflete que a sociedade associa a ideia do ensino de inglês às escolas de idiomas, mas que a BNCC propõe a quebra desse paradigma, trazendo a responsabilidade do ensino da língua inglesa para a escola.

Entre as principais dificuldades da implementação da Base Nacional Comum Curricular, está a situação de muitos professores de inglês não são usuários da língua. Eles simplesmente não falam inglês.

Se a BNCC almeja a formação integral do aluno, é imprescindível que o professor supere inicialmente sua limitação linguística.

Como consequência dessa dificuldade, tem-se o desafio metodológico. O professor hoje ensina o conteúdo com o qual se sente confortável. Assim, limita-se, na imensa maioria dos casos, às regras, gramática e vocabulário.

Definitivamente esse olhar deve ser mudado. A BNCC aponta para competências específicas como identificar o lugar de si e do outro, comunicar-se na língua inglesa, identificar similaridades e diferenças entre as línguas, utilizar novas tecnologias, conhecer patrimônios culturais, entre outras.

Tem, assim, um caráter muito mais amplo do que a simples questão linguística, um caráter de formação, de acesso a um novo mundo.

Existe, com a BNCC, a oportunidade de intervir positivamente na grande tragédia do abandono escolar que ocorre na fase do Ensino Fundamental, com o uso adequado da língua inglesa.

O jovem, nessa faixa etária, se sente atraído por atualidades, ferramentas que o conectem ao mundo real. Desde que bem planejadas as aulas, a língua inglesa tem essa potencialidade, através de músicas, filmes, entrevistas, reportagens sobre temas atuais, além de facilitar o uso da tecnologia digital.

O ensino significativo engaja e torna o aluno protagonista do seu aprendizado. Porém, o professor também deve se imbuir de seu respectivo protagonismo. A sua responsabilidade, apesar de não ser exclusiva (coordenação e direção da escola compartilham da mesma), é crucial.

O grande desafio posto é oferecer ao aluno a experiência da fala. Só se aprende um idioma, usando-o. A grande ruptura proposta pela BNCC é que as orientações curriculares permitam essa experiência, formando o indivíduo nos aspectos cognitivo e emocional e superando, definitivamente, o simples componente linguístico e gramatical.

Dentre os desafios destacados, um dos mais complexos é a heterogeneidade no conhecimento de inglês dentro de uma mesma turma. Dar aula de inglês em uma turma multinível é uma tarefa árdua, mas que hoje já pode contar com o apoio tecnológico para sua superação.

Neste artigo você aprendeu o que é BNCC, como ela implementou o inglês no ensino fundamental e quais são os desafios postos.

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